O Tempo que Sobra no Fim do Mundo

Grazianne Delgado
Por Grazianne Delgado 151 visualizações
Foto: pixabay

Havia um relógio quebrado na parede do café. Sem ponteiros, sem números, só um círculo vazio marcando horas imaginárias. Eu olhava para ele enquanto esperava meu expresso, pensando como aquilo era uma metáfora perfeita de 2024 – todos correndo contra o tempo, mas ninguém sabendo realmente que horas eram.

Na mesa ao lado, um homem lia jornal. De verdade, daqueles de papel que mancham os dedos de tinta. Dois adolescentes riam de um meme no celular. O barista anotava pedidos num bloquinho amarelo. E eu, ali no meio, tentando lembrar quando foi a última vez que parei para não fazer nada.

O mundo está cheio de gente contando os minutos, mas poucos sabem o que fazer com os segundos que sobram. Aqueles entre um gole e outro, entre uma mensagem e outra, entre o semáforo fechado e o aberto.

Meu café esfriou. O homem dobrou o jornal e saiu. O relógio continuou sem marcar hora. E eu decidi que, hoje, meu luxo seria ficar ali – sem rolar a tela, sem responder notificações, só existindo naquele instante que não entra em estatística de produtividade.

Afinal, o tempo não é dinheiro. É respiro.

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