Meu Avô-Humano e os Segredos que Só Eu Sei

Pipoca Delgado
Por Pipoca Delgado 111 visualizações
Foto: pixabay

De todos os humanos desta casa, o Avô é o meu favorito. (Shhh, não contem para os outros.) Ele tem um ritual sagrado: chega do trabalho, tira os sapatos, deita no chão e me chama com aquele “Cadê minha psicóloga de pêlo?”. Eu, claro, atendo prontamente. Afinal, alguém tem que escutar os dramas desta família.

Cena 1: A Hora da Descompressão

O Avô chega com a cara cansada, solta um “Pipoca, hoje foi dia de louco” e – ploft – já está deitado no tapete. Eu subo no peito dele como uma profissional, farejo seu queixo (ele sempre traz cheiro de café e um pouco de frustração) e me acomodo. Ele começa:

“No trabalho hoje…”

Eu, ouvindo: (mastigo um pouco de feno pra demonstrar empatia).

Ele fala de reuniões, de prazos, do trânsito de Goiânia. Eu, como boa ouvinte, dou leves cochichos (“wheek wheek”) nos momentos certos. Às vezes ele ri e diz “É isso mesmo, Pipoca!”, como se eu tivesse dado um conselho. (Na verdade, só queria dizer “Para de falar e me dá um pepino”.)

Cena 2: Os Segredos que Ele Me Conta

O Avô é o único que confessa coisas que os outros humanos não ouvem:

“Tô velho pra essas correrias, Pipoca.”

“Sua humana-avó tá brava comigo porque esqueci o lixo de novo.”

“Acho que vou comprar um pacote de biscoito de couve só pra você. Não conta pra ninguém.”

Eu guardo todos os segredos, é claro. Mas cobro em petiscos.

Cena 3: O Momento que Ninguém Vê

Às vezes, ele pega no sono. Eu fico lá, patinha no peito dele, ouvindo o coração bater. Aí eu penso: “Esse humano grande é frágil também.” Mas não falo muito sobre isso – sou durona, não uma romântica.

Quando ele acorda, sempre diz a mesma coisa:

“Pipoca, você é a melhor terapeuta do mundo.”

Eu: “E o pepino, cadê?” (Em porquinhoês, claro.)

Conclusão

Se um dia inventarem um Diário do Avô, eu sou a única que poderia escrever. Mas não vou. Algumas coisas ficam entre um porquinho e seu humano favorito.

(E se os outros descobrirem que ele é meu preferido, eu nego tudo. Até a couve.)

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